Conhecendo a obra - Habitar o Inóspito de Caroline Garpelli Barbosa
- Via Verita Editora
- há 1 dia
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O livro 'Habitar o inóspito: a condição humana de desabrigo a partir de Martin Heidegger e Sigmund Freud' é fruto de um trabalho ousado desenvolvido pela autora em sua tese de doutorado, na qual sustenta que, a despeito das divergências epistemológicas que tradicionalmente embasam os (des)encontros entre as tradições psicanalítica e fenomenológica, é possível estabelecer um diálogo entre Heidegger e Freud. Dialogar, no contexto dessa obra, envolve sustentar a escuta aberta à alteridade e ao elemento novo que pode emergir do encontro e confrontação entre o familiar e o que lhe é estranho. É desse modo que, tanto Freud quanto Heidegger foram abordados em suas radicais diferenças e, também, naquilo que têm em comum. Nessa tensão inerente ao encontro entre ambos foi aberto um espaço de criação em meio ao qual cada um dos autores aqui estudados pode ser visto de um modo novo e, talvez, ainda não pensado. Para a realização desse percurso, o fio condutor escolhido foi o afeto da angústia, que orientou a arquitetura do que a autora chamou de condição humana de desabrigo, um ethos comum de ordem ontológica que foi apresentado como o eixo de ligação entre Heidegger e Freud. O diálogo aqui estabelecido não se deu, portanto, por uma via epistemológica, mas, sim, mediante a proposição de que, por caminhos diversos e partindo de lugares radicalmente diferentes, os dois autores visualizam que a vida humana habita abrigos sempre precários e atravessados pela indeterminação.
Ao percorrer tal caminho, o livro em questão traz à luz o potencial ético presente no discurso psicanalítico e filosófico, especialmente no que diz respeito às implicações para a prática clínica psicológica, uma vez que o cuidado com a própria existência e com a existência de outrém, pensados a partir da condição de desabrigo, envolve uma atitude de disponibilidade para transitar nesse lugar inóspito que, se por um lado, pode se mostrar mediante a face do terror, do desespero e do traumatismo, por outro, pode se abrir como possibilidade de criação de laços afetivos, da busca por amparo e pela construção conjunta de espaços de pertencimento. Assim, o livro de Caroline Garpelli Barbosa traz contribuições tanto ao campo da psicologia fenomenológico-hermenêutica quanto à psicanálise, especialmente aos que entendem a clínica psicológica para além de um espaço de batalhas entre terrenos epistemológicos distintos e a consideram solo fértil para a emergência do cuidado e da escuta atenta e serena àquilo que chega em sua alteridade.
INFORMAÇÕES SOBRE A AUTORA

Caroline Garpelli Barbosa, docente da Universidade Federal Fluminense (UFF – Niterói/RJ). Atua principalmente nas seguintes áreas: Psicologia e Filosofia; Psicologia Clínica; Psicologia Fenomenológico-Existencial/ Hermenêu- tica; diálogo a Psicologia Fenomenológico-Hermenêutica e outros campos de saber, em especial, a Psicanálise e a Literatura; Atualmente tem se dedicado a pesquisar sobre as várias expressões do desamparo em suas possibilidades de expressão na clínica psicológica contemporânea, especialmente os “desertos existenciais”.