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Foto do escritorDeborah Guimarães

Sobre o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto

Atualizado: 28 de jan. de 2023

por Deborah Moreira Guimarães



Em 27 de janeiro de 1945, uma patrulha da União Soviética adentrava no complexo de campos de extermínio conhecido como Auschwitz, no município de Oświęcim, situado nas proximidades da cidade de Cracóvia (Kraków), na Polônia. Mais precisamente, o Exército Vermelho entrava no campo Auschwitz II - Birkenau, onde cerca de 7.000 presos - em sua maioria idosos, crianças e doentes - permaneceram após serem considerados incapazes de migrar - caminhando - para outros campos naquilo que mais tarde ficaria conhecida como "A marcha da morte".


O Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto - 27 de janeiro - foi criado por iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) no dia 1° de dezembro de 2005, como forma de preservar a história das mais de 6 milhões de vítimas de torturas e mortes nos campos de concentração e de extermínio criados durante o regime nazista na Europa (1933-1945). As vítimas eram pessoas consideradas "inferiores": judeus, negros, homossexuais, deficientes físicos e/ou mentais, Testemunhas de Jeová, etnias Sinti e Roma e opositores políticos.

Começarei este ensaio evocando um poema de Paul Celan. Abaixo, no original em alemão, e, em seguida, em português:






Todesfuge

Paul Celan

Schwarze Milch der Frühe wir trinken sie abends wir trinken sie mittags und morgens wir trinken sie nachts wir trinken und trinken wir schaufeln ein Grab in den Lüften da liegt man nicht eng Ein Mann wohnt im Haus der spielt mit den Schlangen der schreibt der schreibt wenn es dunkelt nach Deutschland dein goldenes Haar Margarete

er schreibt es und tritt vor das Haus und es blitzen die Sterne er pfeift seine Rüden herbei er pfeift seine Juden hervor läßt schaufeln ein Grab in der Erde er befiehlt uns spielt auf nun zum Tanz

Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts wir trinken dich morgens und mittags wir trinken dich abends wir trinken und trinken Ein Mann wohnt im Haus der spielt mit den Schlangen der schreibt der schreibt wenn es dunkelt nach Deutschland dein goldenes Haar Margarete Dein aschenes Haar Sulamith

wir schaufeln ein Grab in den Lüften da liegt man nicht eng

Er ruft stecht tiefer ins Erdreich ihr einen ihr andern singet und spielt er greift nach dem Eisen im Gurt er schwingts seine Augen sind blau stecht tiefer die Spaten ihr einen ihr anderen spielt weiter zum Tanz auf

Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts wir trinken dich mittags und morgens wir trinken dich abends wir trinken und trinken ein Mann wohnt im Haus dein goldenes Haar Margarete dein aschenes Haar Sulamith er spielt mit den Schlangen

Er ruft spielt süßer den Tod der Tod ist ein Meister aus Deutschland er ruft streicht dunkler die Geigen dann steigt ihr als Rauch in die Luft dann habt ihr ein Grab in den Wolken da liegt man nicht eng

Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts wir trinken dich mittags der Tod ist ein Meister aus Deutschland wir trinken dich abends und morgens wir trinken und trinken der Tod ist ein Meister aus Deutschland sein Auge ist blau er trifft dich mit bleierner Kugel er trifft dich genau ein Mann wohnt im Haus dein goldenes Haar Margarete er hetzt seine Rüden auf uns er schenkt uns ein Grab in der Luft er spielt mit den Schlangen und träumet der Tod ist ein Meister aus Deutschland dein goldenes Haar Margarete dein aschenes Haar Sulamith


Fuga da morte

Paul Celan

Leite negro da madrugada nós o bebemos de noite

nós o bebemos ao meio-dia e de manhã nós o bebemos de noite nós o bebemos bebemos

cavamos um túmulo nos ares lá não se jaz apertado

Um homem mora na casa bole com cobras escreve

escreve para a Alemanha quando escurece teu cabelo de ouro Margarete

escreve e se planta diante da casa e as estrelas faíscam ele assobia para os seus Mastins

assobia para os seus judeus manda cavar um túmulo na terra

ordena-nos agora toquem para dançar

Leite negro da madrugada nós te bebemos de noite

nós te bebemos de manhã e ao meio-dia nós te bebemos de noite nós bebemos bebemos

Um homem mora na casa e bole com cobras escreve

escreve para a Alemanha quando escurece teu cabelo de ouro Margarete

Teu cabelo de cinzas Sulamita cavamos um túmulo nos ares lá não se jaz apertado

Ele brada cravem mais fundo na terra vocês aí cantem e toquem

agarra a arma na cinta brande-a seus olhos são azuis

cravem mais fundo as pás vocês aí continuem tocando para dançar

Leite negro da madrugada nós te bebemos de noite

nós te bebemos ao meio-dia e de manhã nós te bebemos de noite nós bebemos bebemos

um homem mora na casa teu cabelo de ouro Margarete

teu cabelo de cinzas Sulamita ele bole com cobras

Ele brada toquem a morte mais doce a morte é um dos mestres da Alemanha

ele brada toquem mais fundo os violinos vocês aí sobem como fumaça no ar

aí vocês têm um túmulo nas nuvens lá não se jaz apertado

Leite negro da madrugada nós te bebemos de noite

nós te bebemos ao meio-dia a morte é um dos mestres da Alemanha

nós te bebemos de noite e de manhã nós bebemos bebemos

a morte é um dos mestres da Alemanha seu olho é azul

acerta-te com uma bala de chumbo acerta-te em cheio

um homem mora na casa teu cabelo de ouro Margarete

ele atiça seus mastins sobre nós e sonha a morte é um dos mestres da Alemanha

teu cabelo de ouro Margarete

teu cabelo de cinzas Sulamita

(Tradução de Modesto Carone em Quatro Mil Anos de Poesia, Editora Perspectiva)



Paul Celan (23/11/1920 - 20/04/1970), pseudônimo de Paul Pessakh Antschel ou Paul Pessakh Ancel, foi um poeta, tradutor e ensaísta romeno. Radicou-se na França, país onde veio a falecer.



Resolvi abrir esta reflexão com aquele que considero ser o poema mais simbólico do que foi o Holocausto, ou a Shoah (termo hebraico que significa ruína, catástrofe): Todesfuge, de Paul Celan, ou, em português, Fuga da morte.


Seu título indica dois aspectos importantes. Primeiramente, o ato de fugir, a retirada de um local. O genitivo empregado no título poderia, então, evidenciar dois pontos: o quanto naturalmente se foge da morte, isto é, o fato de que nós, seres humanos, vivemos procurando fugir dessa possibilidade sempre iminente; ou a morte em fuga, a morte que simplesmente fugiu, escapou, deixou de acontecer. Em segundo lugar, fuga aqui também diz respeito — e podemos escutar o áudio original de Paul Celan declamando Todesfuge* — à fuga musical, estilo fortemente marcado por contrapontos e polifonias. O tema da fuga se inicia com uma voz principal, que é, em seguida, repetida por outras vozes que aos poucos se entrelaçam formando uma totalidade harmônica compassada por contrapontos, na qual, no entanto, as vozes não se perdem formando apenas uma voz, mas se unem em uma composição formada pela sobreposições de diversas vozes.


Foto do portão do campo de concentração de Dachau, situado nos arredores da cidade de Munique, na Alemanha. Dachau foi o primeiro campo de concentração a ser construído desde a ascensão do partido nazista (NSDAP - Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei) e foi o único campo de concentração em atividade durante todo este período (1933-1945), sendo destino, inicialmente, de presos políticos. Mais tarde, o local ficou conhecido como lugar de experimentos médicos com os deportados. Na entrada, a frase "Arbeit macht frei", que significa "o trabalho liberta" (foto tirada pela autora).



Essa é a sensação que me arrebata sempre que escuto ou leio Todesfuge: há uma voz principal que é frequentemente sobreposta por milhões de outras vozes — vozes que ecoam, na ritmicidade da fuga, a morte que lhes escapou, a morte que lhes fugiu.


Se a morte é um fenômeno que ocorre apenas enquanto espera, enquanto possibilidade que um dia virá para cessar todas as nossas demais possibilidades de ser e, consequentemente, encerrar a dinâmica da vida, o que ocorreu aos 6 milhões de judeus mortos no Holocausto — e não nos esqueçamos de todas as demais minorias e vítimas em geral que sofreram perseguição durante o regime nazista — não foi propriamente “morte”, mas a banalização total da perda da vida, uma forma de morrer que se aproximaria muito mais de um perecimento, pois determinado por circunstâncias as mais cruéis e impessoais que se pode conceber. Morrer é compreender-se como ser finito e ver suas possibilidades de ser se esvaírem a partir de uma compreensão ontológica da perda da vida. Nesse sentido, só morrem aqueles que, tendo sua condição de humanidade preservada, compreendem a mortalidade como parte constitutiva da essência humana. As vítimas da Shoah tiveram, portanto, sua humanidade destruída e, consequentemente, sua morte subtraída por uma indústria de produção de corpos em série, por um fenômeno de aniquilação em massa de toda e qualquer possibilidade de ser, incluindo aí a de "não mais existir".


Foi em 20 de janeiro de 1942 que a morte se tornou um “mestre da Alemanha”, quando, em reunião acordada em Berlim, o alto escalão do regime nazista decidiu colocar em prática a “Solução Final” da assim chamada “Questão judaica”, implementando nos campos de concentração e de extermínio as práticas de morte por meio de fuzilamento e de asfixia nas câmaras de gás. Enquanto mecanismos de assassinatos em massa, tais medidas contribuíram para o plano de genocídio da população judaica, para o plano de aniquilação de minorias, de grupos considerados “inferiores”, de grupos condenados por divergências políticas, de grupos que não se encaixavam nos padrões de “normalidade” impostos pelo regime nazista, em suma, de todos e todas que fossem simplesmente diferentes daquilo que era considerado o ideal, a norma, o padrão.


Fornos do crematório do campo de concentração de Dachau (foto tirada pela autora).



Nesse sentido, o Holocausto é a prova de que o ser humano é capaz das maiores atrocidades e que precisamos estar atentos a todos os sinais possíveis de cair no erro. Nós, humanos, somos capazes até mesmo de matar quando não vemos o outro como um semelhante. Foi esse o pensamento básico que fez com que o regime nazista ganhasse grande apoio da população: a destruição da alteridade.


Fotografia do monumento intitulado “International Monument”, feito pelo artista Nandor Glid em 1968 no campo de concentração de Dachau. O monumento retrata corpos contorcidos uns aos outros lembrando algo como uma cerca de arame farpado (foto extraída da internet**).


Crimes como o Holocausto não acontecem de um dia para o outro. Há todo um processo envolvido na construção da imagem do outro como o inimigo, o diferente de nós, a ameaça à nossa estabilidade e ao nosso mundo. É por isso que primeiro se restringe o acesso à cultura, pois quanto mais distantes estiverem de meios considerados intelectuais e culturais — como teatro, ópera, museus etc. — mais aqueles indivíduos estarão distantes do que os distingue das demais espécies: o apelo à arte, a nostalgia do impossível, a força de criação e a sensação de insuficiência quando a vida está fadada à mera concretude fática. Cultura é necessidade, direito humano fundamental. Com o passar do tempo, é comum acreditarem que alguns não “merecem” certos espaços, e esses “alguns” começam a se situar cada vez mais às margens da vida cultural que caracteriza o espírito de um povo e que viabiliza a criação de elos significativos com o mundo. Estar à margem é não ter um mundo em comunhão com outros, é estar entregue ao acaso de uma vida isolada da rede significativa que torna a realidade prenhe de vínculos, de significados.


Um segundo instrumento de alienação das massas é a criação de caricaturas e estereótipos para se referir a um povo, geralmente evidenciando todos os aspectos considerados determinantes para a posterior instauração de um inimigo comum. É fácil apontar o dedo e ressaltar características consideradas “negativas” de um grupo quando este mesmo grupo já não vive no mesmo espaço que o “nosso”. Assim, foi muito mais plausível para uma população encontrar as causas de suas desgraças em um povo completamente estrangeiro, que “nada tinha em comum”, nem sequer o compartilhamento do lugar, após a distorção de sua imagem. Tal prática fere um dos princípios básicos da empatia, que é "reconhecer o outro como um outro de mim" - ou, como diria Dilthey, reconhecer o eu no tu -, ou seja, destruir essa imagem é condição necessária para ferir o outro, para enxergá-lo como inimigo. Como zelar pela vida alheia, como zelo pela minha própria, se o outro nada tem a ver comigo? O fosso que causa tal separação é cavado lentamente e de uma maneira tão sutil que basta uma cochilada para que uns sejam vistos como “mais iguais do que outros”, como disse George Orwell em seu clássico A revolução dos bichos.


Fotografia de um quadro referente ao período do Holocausto (Museu da História Alemã, Berlim, foto tirada pela autora)



A partir daí, os passos são mais largos: não há história de ressentimento e dor que não possa ser convertida em ódio. Para odiar, no entanto, é necessário ter um alvo. É aí que o outro (que já nada tem a ver comigo e que, portanto, já foi desprovido de sua humanidade) se torna o alvo do ódio. É preciso destruir o outro para que os problemas desapareceram magicamente, num piscar de olhos. É preciso que o outro seja “eliminado” para que a humanidade plena volte a se estabelecer. Quando um ser humano chega ao ponto de desejar extinguir outros seres humanos é porque estes já perderam o seu estado de humanidade há muito tempo — se é que eles já tiveram algum dia sido realmente vistos como humanos.

Vista do campo de extermínio Auschwitz II - Birkenau, nos arredores de Cracóvia. Os trilhos do trem caracterizam o propósito principal da construção do complexo de Auschwitz: consolidar o plano de genocídio em massa acordado na Conferência de Wannsee, mais conhecido como "Solução final". O campo de Birkenau foi o destino de milhares de prisioneiros deportados que viriam a ser assassinados, imediatamente após sua chegada, nas filas de fuzilamento e nas câmaras de gás. Ao fundo, nota-se a torre de vigilância, da qual é possível ter a visão de todo o campo (foto tirada pela autora).


Contudo, não é preciso ir muito longe para vermos exemplos concretos desses mecanismos de poder em atuação. Quantos em nosso próprio país não morrem diariamente sem sequer serem notados ou lembrados? Já fechamos os olhos para certos genocídios, enquanto, ao mesmo tempo, permanecemos de olhos bem abertos e atentos a qualquer arranhão que possa afligir os que se assemelham a nós. É preciso vigiar a compaixão e o sofrimento diariamente para que uma possível seletividade não nos faça deixar de ver o outro como um outro de nós, para que não nos esqueçamos que humanidade não é condição a priori de todos os indivíduos, mas privilégio de grupos não caricaturados, não marginalizados, isto é, grupos que, de fato, detêm o privilégio de existirem sem terem seus corpos e suas vidas frequentemente ameaçados, marcados pela instabilidade própria às situações de vulnerabilidade em que se encontram. A ameaça é constante, e a vigilância também. O ódio de um grupo homogêneo, quando convergido para um mesmo “inimigo” comum e camuflado por ideais de superação, torna-se fábrica de mortes e tem o poder de destruir a alteridade como se ela nunca tivesse sequer existido.



Praça das cadeiras, no bairro judeu em Cracóvia. Cada cadeira em bronze simboliza cerca de mil judeus que foram, primeiramente, isolados no gueto da cidade, para, em seguida, serem levados aos campos de extermínio. As cadeiras também remetem aos inúmeros artefatos deixados para trás, isto é, trata-se de um monumento em memória da história daqueles que foram obrigados a deixar suas vidas, suas famílias e seus pertences (foto tirada pela autora).


Lembro-me — quando estive em Cracóvia — de ter escutado todos os passos do processo de isolamento dos judeus nos guetos até a posterior chegada ao complexo de Auschwitz a partir dos relatos de um estudante de História, morador da região. Ele proferiu suas pequenas palestras —  no estilo de conversas — durante o caminho de uma sinagoga do bairro judaico até chegar na praça onde está o monumento das cadeiras, reconstruindo todo o processo de marginalização do povo judeu, desde a primeira restrição a frequentar certos ambientes, passando pelo cerceamento no gueto, até a entrada no trem para Auschwitz. Trata-se de um plano gradual e eficaz. Com o tempo, o processo de marginalização consegue concluir seu intuito: o que entra no trem já perdeu sua humanidade, é por isso que tal fim se torna algo socialmente “aceitável”. Isso me faz pensar: quão passiva é a nossa reação diante daqueles que perderam, ou nunca tiveram, sua humanidade?


Entrada do campo de extermínio conhecido como Auschwitz I na cidade de Oświęcim, nos arredores de Cracóvia, na Polônia. No portão, a típica frase "Arbeit macht frei", que significa "o trabalho liberta". Os deportados para os campos de concentração eram forçados a trabalhar ininterruptamente, o que beneficiava obras empreendidas pelo regime nazista, empresas e indústrias. Mais tarde, com o decreto da "solução final", os trabalhos forçados foram substituídos pelo plano de genocídio em massa, com métodos considerados mais eficazes no propósito genocida em questão, como o fuzilamento e a câmara de gás (foto tirada pela autora).


Que hoje — 27 de janeiro — não seja apenas uma data como qualquer outra, mas um momento de pausa para refletirmos sobre a importância do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto no fortalecimento dos processos de restauração da Memória e da Lembrança como meios de preservação da história vivida. Dessa forma, que a história não seja um privilégio hegemônico daqueles que sempre narraram os acontecimentos de nossa “humanidade”, mas uma força atuante, viva, e capaz de mobilizar novos sentidos para tudo aquilo que restar às gerações porvir.


São delas — das vítimas cuja humanidade, cuja vida e cuja morte foram simplesmente roubadas pela força do ódio e do preconceito — as vozes que ressoam na polifonia da fuga de Paul Celan. Vozes que jazem nos ares, no gigantesco túmulo que não pode ser encontrado em terra alguma, mas somente nos ares por onde se espalhou a fumaça de suas cinzas.


“wir schaufeln ein Grab in den Lüften da liegt man nicht eng”

“cavamos um túmulo nos ares lá não se jaz apertado”

Fotografia do campo de concentração de Sachsenhausen, que esteve ativo no período entre 1936 e 1945. O campo de concentração de Sachsenhausen era, sobretudo, o destino de presos políticos, homossexuais e artistas, também considerados "indesejados" pelo regime nazista. Está localizado nas proximidades da cidade de Berlim (foto tirada pela autora).



Não há como sepultar na terra pessoas que tiveram suas mortes roubadas, pessoas cujas identidades foram perdidas em meio às multidões de corpos asfixiados ou fuzilados nos campos de extermínio, pessoas que deixaram de ser seres humanos no processo de objetificação que caracteriza a atuação da indústria da morte — seja onde for —,  e de sua fabricação de corpos, nas suas decisões sobre quem deve viver e sobre quem deve morrer.

Memorial aos Judeus Mortos da Europa (Denkmal für die ermordeten Juden Europas), ou simplesmente "Memorial do Holocausto". Construído na região central de Berlim, em uma área de 19.000 metros quadrados, este memorial representa os 6 milhões de judeus mortos na Europa durante o regime nazista. Foi projeto pelo arquiteto Peter Eisenman e inaugurado em 10 de maio de 2005. Nas suas proximidades estão situados outros dois importantes memoriais de vítimas de Holocausto: o dos homossexuais e o dos Sinti e Roma (foto da autora).


Manter viva a memória das vítimas do Holocausto é preservar a história do ponto de vista daqueles que sofreram e ainda sofrem. O esquecimento conduz à repetição.

Nunca esquecer para jamais repetir.


Stolpersteine do filósofo Edmund Husserl em frente à entrada da Universidade de Freiburg. Com o intuito de preservar a memória das milhões de vítimas do Holocausto, o artista plástico Gunter Demnig criou o projeto Stolpersteine (em tradução direta do alemão: pedras do tropeço). Trata-se de um cubo de concreto de dez centímetros coberto por uma placa de bronze trazendo a memória de cada vítima. É possível ler "aqui viveu" ou outra frase simbólica referente à vítima (como na placa de Husserl, onde se lê "aqui lecionou". Em seguida, outras informações são encontradas, como data de nascimento e destino após o Holocausto, data de deportação, de exílio, de homicídio ou de suicídio, por exemplo. Mais de 70.000 pedras já foram instaladas nas ruas e calçadas da Europa, trata-se de tropeços - durante a caminhada - para lembrarmos que a história é marcada também por dor e incômodos que sempre permanecerão.



Referências

Naturalmente, há inúmeras outras referências fundamentais e relevantes sobre esse período tão triste de nossa história, limitamo-nos aqui a citar apenas algumas delas.


CELAN, Paul. Fuga da morte. Tradução de Modesto Carone. Quatro Mil Anos de Poesia. São Paulo: Editora Perspectiva.

CELAN, Paul. Todesfuge. Acesso disponível em: https://www.lyrikline.org/en/poems/todesfuge-66

* Paul Celan declamando “Todesfuge”.


Documentários

SHOAH

Lançamento: abril de 1985 | 10h 13min | Direção e produção de Claude Lanzmann

Idiomas: Língua inglesa, Língua francesa, Língua alemã, Língua hebraica, Língua polaca, Língua iídiche

SOBREVIVI AO HOLOCAUSTO

Lançamento: 21 de agosto de 2014 | 1h 30min | Direção de Caio Cobra e Marcio Pitliuk

Elenco: Julio Gartner, Marina Kagan | Nacionalidade: Brasil


Para trabalhar na sala de aula - Ensino Médio

O Quadro Negro Podcast. Episódio 3: Educação e Memória.


SILVA, Daniel Neves. "Solução final: o plano nazista de extermínio dos judeus na Europa"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/solucao-final-plano-nazista-exterminio-dos-judeus-na-europa.htm. Acesso em 27 de janeiro de 2021.


** Referência da foto do monumento em Dachau

Disponível em: https://www.viajonarios.com.br/alemanha-campo-de-concentracao-em-dachau/



FOTO DE CAPA

Fotografia tirada pela autora da janela da torre de vigilância do Campo de extermínio Auschwitz II Birkenau, nos arredores de Cracóvia, na Polônia, em março de 2016.



SOBRE A AUTORA

Deborah Moreira Guimarães é mestre (2014) e doutora (2019) em Filosofia pela UNIFESP. Em 2016, por ocasião de ter sido contemplada com uma bolsa de estudos Winterkurs, concedida pelo Serviço alemão de intercâmbio acadêmico (DAAD), cursou - como parte das atividades do programa - o seminário intitulado História da Alemanha no Século XX, na Universidade de Freiburg.

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