Desmistificando as narrativas sobre o subdesenvolvimento brasileiro
por Frederico Moreira Guimarães
1. Introdução e problemática
Aqui eu não pretendo dar uma resposta definitiva para o problema. O objetivo é apenas oferecer pistas para a reflexão e, mais importante, desmistificar algumas narrativas sobre o nosso subdesenvolvimento que ocuparam o imaginário brasileiro passado e que, com grande força, ainda persistem no presente, sendo consideradas até mesmo “versões oficiais”. Dizem que uma mentira contada muitas vezes vira verdade e, nesse caso, virou mesmo, já que muitas dessas tentativas de explicação ocupam o nosso imaginário comum e ainda persistem em ambientes educacionais, sendo reproduzidas até mesmo nas grandes mídias e veículos de informação, sobretudo, quando alguém se questiona sobre as raízes do subdesenvolvimento brasileiro. O critério de seleção dessas narrativas foi, portanto, minha experiência de vida e minha prática docente, já que são temas recorrentes em sala de aula desde que eu era estudante.
Assim, quando perguntamos para alguém sobre “por que o Brasil é um país pobre e atrasado?”, é muito comum ouvirmos algumas dessas respostas abaixo:
1º O Brasil é um país pobre porque foi uma colônia de Portugal.
2º O Brasil hoje é um país pobre porque foi uma colônia de exploração, enquanto os EUA são ricos porque foram uma colônia de povoamento.
3º A insistente interpretação da nossa direita e dos Ancaps (Anarcocapitalistas ou Libertários) de que o Brasil é um país pobre porque tem um estado muito forte e atuante. A solução seria um livre-mercado, assim como foi feito nos EUA.
As duas primeiras interpretações jogam o problema para o passado. O Brasil, portanto, está “travado” desde a colonização, que criou estruturas tão profundas que marcaram a nossa sociedade, dificultando qualquer tentativa de melhora e progresso. Na primeira, o motivo principal seria o roubo do nosso ouro pelos portugueses, que tirou a nossa possibilidade de enriquecimento e, assim, já começaríamos em grande desvantagem em relação às outras nações, já que esse ouro seria, em grande parte, responsável pelo nosso futuro enriquecimento, como cantou Renato Russo em Índios: “Quem me dera ao menos uma vez / Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem / Conseguiu me convencer que era prova de amizade / Se alguém levasse embora até o que eu não tinha”. Ela também faz uma crítica ao modelo colonial português, como se este fosse inferior à colonização inglesa, sendo um “privilégio” ter sido colônia da Inglaterra ou da França, por exemplo. A segunda interpretação coloca a culpa nos modelos de colonização adotados, tendo como grande comparação os EUA. Dessa forma, os ingleses, nas treze colônias (futuro EUA) teriam criado uma colônia para “povoamento”, buscando novas e melhores terras para abrigar a sua população perseguida por questões religiosas. Essa narrativa ainda traz uma explicação “sociológica”: o Brasil, além de exploração, seria um lar de “vagabundos, prostitutas e ladrões”, o que explicaria a tal malandragem do nosso povo, enquanto os EUA foram povoados por rígidos e imaculados protestantes, o que explicaria a postura culturalmente “superior” de seu povo.
A terceira narrativa tem viés econômico, baseada numa leitura liberal fundamentalista da história. Esta tem ganhado muito espaço hoje por causa da influência midiática dos movimentos liberais e de Direita, em especial, os partidos políticos recentes, como o Novo e o PSL (que teve uma cisma com a entrada do presidente Jair Bolsonaro, criando o “Livres”), movimentos como o MBL (Movimento Brasil Livre), o Vem Pra Rua e grupos Ancaps (Anarcocapitalistas ou Libertários, com espaço cada vez maior em canais jovens no Youtube), e institutos como o Mises e o Millenium. Para esses grupos, quanto maior a liberdade econômica, maior o desenvolvimento. O Brasil, portanto, seria um país pobre por causa do tamanho exagerado do seu Estado e da sua histórica interferência na economia. Os EUA seriam, novamente, o modelo perfeito de Estado que, após a sua independência, colocou em prática a defesa irrestrita da propriedade privada e o projeto Liberal do Estado Mínimo, dando espaço para a Livre iniciativa, o que garantiu o seu protagonismo crescente na história até o cume como grande potência econômica do século XX. Para quem não se lembra, foi justamente esta a explicação adotada pelo ministro Onyx Lorenzoni durante a fatídica reunião ministerial do presidente Bolsonaro do dia 22/04/2020:
Nós temos uma coisa emblemática aqui que é a lei da liberdade econômica, que, pela primeira vez na história do Brasil, desde que o Brasil é Brasil, o cida ... dian ... diante do Estado tem razão, até que o Estado prove ao contrário. Foi isso que fez os americanos, que há duzentos anos atrás eram muito mais pobres do que nós, ser muito mais ricos do que nós. Então, os aprofundamentos são sim das reformas, é sim ousar e ter urna reforma tributária que baixe imposto no Brasil. Reduz a carga tributária, eu tô falando sério. A gente nunca discutiu isso entre nós. Mas isso tem que caminhar para isso.[i]
A persistência dessas narrativas não apenas no senso comum como também em ambientes sérios de reflexão exige com urgência que elas sejam desmistificadas se quisermos, de fato, conhecer a nossa história, os problemas do nosso subdesenvolvimento e, assim, podermos imaginar possibilidades reais e tangíveis para o nosso futuro.
2. Desmistificando as narrativas sobre o passado colonial
Imaginar o Brasil povoado só por ladrões e estupradores é tão falso como supor que apenas intelectuais piedosos foram para as 13 colônias.[ii]
O fragmento acima, do livro História dos Estados Unidos, do prof. Leandro Karnal (et al) faz um processo semelhante ao que propusemos aqui, mas em relação aos EUA (afinal, a narrativa lá é inversa). Não podemos perder de perspectiva que colônia é colônia e não existe colonização superior e inferior para o povo colonizado, sendo a função primordial de uma colônia o enriquecimento de sua metrópole. Dessa forma, não tem como “passar pano” para um tipo específico de colonização. Se alguém tiver dúvidas sobre isso, basta ver o que a Inglaterra fez na África e na Ásia. Muito recorrente é o critério da “importância dada ao estudo”, alegando que a colonização inglesa, desde o século XVII já havia fundado universidades nas treze colônias, enquanto o Brasil só teria as suas instituições superiores a partir da vinda da família real portuguesa, em 1808.
As primeiras universidades fora da Europa se fizeram na América espanhola. Criada em 1538, a Universidade de São Domingos é historicamente a primeira universidade das Américas. Depois vieram as de San Marcos, no Peru (1551), México (1553), Bogotá (1662), Cuzco (1692), Havana (1728) e Santiago (1738). As primeiras universidades norte-americanas, Harvard, Yale e Filadélfia, surgiram respectivamente em 1636, 1701 e 1755.[iii]
Ora, se isso fosse verdade, a américa espanhola deveria ser uma potência, já que as primeiras universidades americanas nasceram nesse território, ainda no século XVI (a mais antiga data de 1538), quando o Brasil ainda estava começando a ser colonizado de fato, e, analisando economicamente, o Brasil ainda é o país mais rico da América Latina[iv]. É claro que instituições de ensino e pesquisa poderiam ter dado um destino diferente ao nosso país e contribuído muito para o nosso progresso social e econômico. Mas, analisando os dados atuais e comparando com os países vizinhos, a explicação de que o atraso nessas instituições em nossa terra como sinal do nosso subdesenvolvimento não faz nenhum sentido.
Tal análise já nos leva a um outro ponto em nossa reflexão: a de que a colonização inglesa teria sido “superior”. É importante deixar bem claro que não existe colonização melhor que a outra e todas são ruins, predatórias, violentas e causaram um mal terrível para o passado das civilizações, sobretudo quando analisamos a violência e a destruição implementada contra os povos originários da América. O que iremos propor aqui é analisar as estruturas administrativas coloniais. Uma simples visualização do fragmento sobre as universidades nos mostra que, se a colonização portuguesa só se preocupou com a criação de institutos de ensino e pesquisa em território brasileiro a partir de 1808, a Espanha, por outro lado, já se preocupou com a criação de universidades em todo seu território colonial desde o começo. Porém, observando outras instituições culturais, também percebemos coisas curiosas, como o fato de o teatro mais antigo das américas ser a “Casa da Ópera”, em Ouro Preto. Além disso, se analisarmos as instituições coloniais, percebemos uma organização mais sistemática e formas de administração muito superiores nas colônias da américa ibérica, quando comparamos com a colonização anglo-saxônica na América. Sobre isso, podemos ler na História dos Estados Unidos:
Decorridos cem anos do início da colonização, caso comparássemos as duas Américas, constataríamos que a ibérica tornou-se muito mais urbana e possuía mais comércio, maior população e produções culturais e artísticas mais “desenvolvidas” que a inglesa. Nesse fato vai residir a maior facilidade dos colonos norte-americanos em proclamarem sua independência. A falta de um efetivo projeto colonial aproximou os EUA de sua independência. As 13 colônias nascem sem a tutela direta do Estado. Por ter sido ‘fraca’, como veremos adiante, a colonização inglesa deu origem à primeira independência vitoriosa da América. Quando a Coroa britânica tentou implantar um modelo sistemático de pacto colonial, o resultado foi o desastre. Em suma, quando Londres tentou imitar Lisboa, já era tarde demais.[v]
A Casa da Ópera (Teatro Municipal de Ouro Preto) o mais antigo teatro das américas [vi]
Dessa maneira, se existiu algum privilégio em ser colonizado pela Inglaterra, foi o de que, no período em que esta tentou fazer um empreendimento colonial no norte da América, envolveu-se em inúmeros conflitos externos e internos, como a “Guerra Civil Inglesa” (1642-1651, três guerras ao todo), a “Segunda Guerra Anglo-holandesa (1665-1667), a “Guerra da Orelha de Jenkins” (1739-1748) e a “Guerra dos Sete Anos” (entre a Inglaterra e a França, 1756-1763). Tal atividade bélica constante impediu uma administração mais organizada e centralizada nas treze colônias, como o fizeram Portugal e Espanha, e como posteriormente a própria Inglaterra faria em seus novos empreendimentos coloniais na Ásia e na África. Essa administração fragilizada é o que explica o fato de as Treze Colônias terem sido o primeiro Estado independente das Américas: “Em suma, quando Londres tentou imitar Lisboa, já era tarde demais”. Porém, isso não explica o seu futuro sucesso econômico, decorrente de outros fatores, sobretudo pela estratégia adotada pós-independência, tema abordado mais à frente.
2.1 O subdesenvolvimento e a desigualdade como escolhas políticas
O Brasil, portanto, não se tornou um país pobre por mácula de um antigo passado colonial, que condenou toda a sua sociedade à pobreza perpétua. Quero mais uma vez destacar, para que não aconteçam más interpretações, que toda e qualquer colonização é injustificável. No caso da América, todas as experiências coloniais foram violentas, escravagistas e exploratórias. Porém, o que as nossas elites optaram por fazer, após a independência, não foi romper com essas estruturas coloniais, mas mantê-las. O Brasil se tornou independente para continuar preservando a sociedade colonial que criou. Como bem observaram Lilia M. Schwarcz e Heloísa M. Starling, é fundamental destacar o pânico causado pelo “efeito Haiti”, que passou por uma revolta que tornou o país independente e aboliu a escravidão, com o seu líder Jean-Jacques Dessalines, um ex-escravo, declarando-se imperador em 1804.
Jean-Jacques Dessalines, Jacques I, imperador do Haiti.[vii]
Como complemento, é importante destacar que Dessalines foi traído e morto pelos seus colaboradores, Alexandre Pétion e Henri Christophe, que dividiram a ilha entre si. O primeiro concedeu asilo político a Simón Bolivar, chamado de “O libertador” pelo seu protagonismo na emancipação das nações sul-americanas, com a promessa de, ao emancipar todas as nações, também “libertar todos os escravos”. Com o Haiti como modelo e à sombra do medo da atuação de Bolívar, a elite Brasileira agiu rapidamente para converter o nosso país num “anti-Haiti”, nas palavras de Schwarcz e Starling:
O movimento de 1804 repercutiu no país todo, e seria pretexto para várias medidas restritivas, entre elas um modelo centralizador de poder após a Independência. O Brasil se inventou, assim, como um anti-Haiti: por oposição, éramos todos brancos, cristãos e civilizados.[viii]
O “efeito Haiti” reproduziu o pânico da elite brasileira, local onde a população negra era muito superior à branca. Para se ter uma ideia disso, no primeiro censo realizado durante o segundo império, em 1872, (a independência do Brasil foi em 1822), quando o fluxo de imigrantes europeus estava se tornando constante, “58% dos residentes no país se declaravam pardos ou pretos, contra 38% que se diziam brancos”[ix]. O Brasil “mudou para continuar o mesmo”, isto é, tornou-se independente para preservar a sociedade que havia criado, trabalhando politicamente para preservar os privilégios da elite local. Sobre isso, escrevem Schwarcz e Starling:
Com tantas fragilidades, o Império brasileiro nascia escondendo fraquezas estruturais. O lema parecia ser aquele utilizado pelo personagem Tancredi, no roteiro que Visconti fez para o romance de Lampedusa, O leopardo: ‘Se queremos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude”. Não se tocava na escravidão, na monocultura ou na grande propriedade. Restavam também intocadas as diferenças políticas internas e a questão fundamental da distribuição do poder entre a autoridade nacional, localizada no Rio de Janeiro, e os demais governos provinciais.[x]
Observando criticamente o nosso passado colonial, já percebemos ali o nascimento das estruturas que iriam moldar a sociedade brasileira após a independência. Dessa forma, por que não podemos atribuir à colonização a culpa pelo nosso subdesenvolvimento? Em certo sentido, podemos, é claro. Toda colonização prejudica um país ao criar instituições que visam a sua exploração e o seu atraso econômico. Porém, o que vemos no Brasil e no restante da América Ibérica pós-independência, são escolhas políticas que optaram por preservar essas estruturas coloniais, ao invés de rompê-las. O Brasil, por exemplo, preservou a escravidão, o latifúndio, a produção de matérias-primas para o mercado externo, a elite colonial e até mesmo um monarca português! A independência do Brasil não foi uma ruptura, mas a forma que a elite local encontrou para se preservar e se perpetuar no poder, mantendo a mais antiga das nossas instituições: a escravidão.
Jean-Baptiste Debret (1768-1848), O Jantar (1820).
Debret retratou o cotidiano no Brasil do século XIX[xi]
E o que explica as diferenças econômicas atuais entre os EUA, que se tornaram independentes em 1776 e o Brasil, junto com as diversas nações que se formaram na América do Sul? Se não foram as diferenças entre as colonizações, por que o norte se tornou rico e os centro e sul pobres? Seria a diferença entre os povos? Caetano Veloso, em 1984, cantou a angústia de visualizar a situação de estagnação da América Latina e a dificuldade de conceber um projeto de futuro na clássica Podres Poderes: “Será que nunca faremos senão confirmar / A incompetência da América católica / Que sempre precisará de ridículos tiranos / Será, será que será que será que será / Será que essa minha estúpida retórica / Terá que soar, terá que se ouvir / Por mais zil anos?” A explicação, por mais estranha que pareça, é a de que hoje somos assim, porque quisemos... Não todos, é claro, mas, sim, a elite que formou nosso país, conforme podemos ler em História dos Estados Unidos, a partir das contribuições do pesquisador Richard Morse sobre a América Latina:
Richard Morse indicou outros caminhos para essa questão (a questão do subdesenvolvimento da América Latina) no texto O espelho de Próspero. O norte-americano afirma que o dito subdesenvolvimento da América Latina é uma opção cultural. Em outras palavras, o mundo ibérico não ficou como está hoje por incompetência ou acidente, mas porque assim o desejou. As diferenças entre a América anglo-saxônica e a ibérica são frutos de “escolhas políticas”.[xii]
A nossa elite, pós-independência, buscou de todas as maneiras perpetuar a sociedade que as beneficiava, fazendo do Brasil um constante “o jantar” de Debret, atualizando-se o mínimo possível e mantendo os seus privilégios intocados. Não é por acaso que fomos o último país a abolir a escravidão no Ocidente, e sua abolição ainda pôs fim ao Império, demonstrando, desde aquele tempo, como a elite local interfere no jogo político sempre motivada pelos seus interesses econômicos pessoais imediatos, e não pensando em um projeto de nação. No Brasil atual, o sociólogo Jessé Souza tem se dedicado bastante a estudar a permanência dessa estrutura herdada do passado escravocrata em nossa sociedade, e, em seu famoso livro A Elite do Atraso, descreveu o funcionamento desse “pacto” entre donos do poder para a manutenção dessa sociedade forjada na escravidão, conforme podemos ler abaixo:
Assim, entre as classes sociais que formaram o Brasil moderno, foi a ‘ralé de novos escravos’, que soma ainda hoje em dia mais de um terço da população, agora de todas as cores de pele, mas, herdando o desprezo social de todos que era devotado ao escravo negro, o elemento mais importante para singularizar o Brasil. Essa classe vai construir um acordo de classes nunca explicitado entre nós. Na base desse acordo está a existência de ‘sub-humanos’ em relação aos quais todas as classes podem se diferenciar positivamente. O Brasil passou de um mercado de trabalho escravocrata para formalmente livre, mas manteve todas as virtualidades do escravismo na nova situação.[xiii]
O assunto é muito amplo e, sem dúvidas, não cabe, com toda a sua complexidade, neste texto (e nem é esse o propósito). Porém, penso que conseguimos responder à primeira questão e parte da segunda, já que ficou no ar ainda uma grande dúvida que merece ser discutida: o que aconteceu do “meio do caminho” com os EUA para eles virem a se tornar a grande potência econômica do século XX? A sua elite era diferente da elite que se formou na América ibérica? Estaria Onyx Lorenzoni e os liberais brasileiros corretos em suas análises de que os EUA hoje são ricos porque, ao se tornarem independentes, adotaram uma perspectiva econômica Liberal, enquanto o Brasil permaneceu com um Estado inchado e intervencionista?
3. Os EUA e o seu desenvolvimento: milagre liberal ou política de Estado?
Uma mentira contada muitas vezes vira verdade e não existe mentira maior na história econômica do que a dos EUA liberal. Os liberais gostam de “trucar” em seus debates sempre com essa carta, como tentativa de “lacrar” o assunto e saírem com a razão. Porém, observando mais de perto, os EUA como berço do liberalismo é muito mais um instrumento de propaganda – muito bem sucedido, por sinal, demonstrando que em marketing eles são realmente muito bons – do que a realidade da sua história. Como ensinou um episódio de South Park, sobre os pais da nação americana, numa citação livre: “vamos ser uma nação fundada na base do ‘diga uma coisa e faça outra’”[xiv].
Após a independência, os EUA criaram o sistema federativo como forma de preservar a autonomia administrativa das treze colônias. Eles também adotaram um sistema político liberal, e é isso o que confunde (muitas vezes é manipulação intencional) aqueles que defendem o liberalismo econômico americano como responsável pelo seu desenvolvimento, que pela imprecisão dos conceitos, acabam misturando tudo e pensando serem equivalentes. O que os economicamente liberais esquecem, não sabem, ou, simplesmente, omitem, é a importância do “pai do pensamento econômico” americano, Alexander Hamilton (1789-1795), o primeiro Secretário do Tesouro dos EUA (equivalente ao Ministro da Fazenda), e que hoje se tornou até tema de musical da Broadway. Hamilton irá se opor ao “livre-mercado” inglês, sobretudo às ideias de Adam Smith, que defendia que os EUA independente deveriam desenvolver sua “vocação agrária” em oposição à vocação manufatureira do Império Britânico. O secretário do Tesouro Americano acreditava justamente no contrário: que o país, para se desenvolver, precisaria desenvolver sua manufatura e se opor aos ideais do livre-comércio, sobretudo às ideias de Adam Smith, que defendia que o novo país deveria ser livre para desenvolver sua vocação econômica natural, que, na sua visão, correspondia à agricultura.
No Brasil, um dos primeiros estudiosos que destacou a importância do pensamento econômico de Alexander Hamilton no desenvolvimento industrial americano pós-independência foi o grande economista Celso Furtado, que, em seu clássico Formação Econômica do Brasil, faz um contraponto entre o Secretário do Tesouro Americano e seu equivalente brasileiro à época da independência, o José da Silva Lisboa, o Visconde de Cairu, que ocupou cargos importantes na administração do Brasil após a vinda da família real e durante a independência, sendo um dos principais articuladores da “abertura dos portos”, empreendida por D. João VI, em 1808, marco que significou a ruptura definitiva com o passado colonial, cuja “medula do sistema, seu elemento definidor, reside no monopólio do comércio colonial”. Dessa forma, “o monopólio do comércio das colônias pela metrópole define o sistema colonial porque é através dele que as colônias preenchem a sua função histórica”[xv].
Como um discípulo de Adam Smith e das ideias econômicas liberais, Cairu também contribuiu para a revogação dos decretos que proibiam a instalação de manufaturas no Brasil. Porém, diferentemente de Hamilton, defendia um mercado livre, modelo que irá ser seguido pelo Brasil pós-independência. Sobre isso, merece destaque a observação de Celso Furtado, ao comparar os dois modelos de desenvolvimento empreendidos por EUA e Brasil:
Nada é mais ilustrativo dessa diferença do que a disparidade que existe entre os dois principais intérpretes dos ideais das classes dominantes nos dois países: Alexander Hamilton e o visconde de Cairu. Ambos são discípulos de Adam Smith, cujas ideias absorveram diretamente e na mesma época na Inglaterra. Sem embargo, enquanto Hamilton se transforma em paladino da industrialização, mal compreendida pela classe de pequenos agricultores norte-americanos, advoga e promove uma decidida ação estatal de caráter positivo – estímulos diretos às indústrias, e não apenas medidas passivas de caráter protecionista –, Cairu crê supersticiosamente na mão invisível e repete: “Deixai fazer, deixai passar, deixai vender”.[xvi]
Dessa forma, podemos até afirmar que o pensamento liberal de Adam Smith e sua “teoria da mão invisível do mercado” (termo que se tornou muito famoso e virou até um “bordão” dos liberais, mas que aparece uma única vez em A Riqueza das Nações) fez escola muito mais no Brasil do que nos EUA, sendo o contrário do que tanto apregoa a nova direita brasileira.
Hamilton irá influenciar as obras do economista prussiano Friedrich List, que “costumava dizer que os países ricos ‘chutavam a escada’ do desenvolvimento após terem atingido um nível de avanço econômico e tecnológico”[xvii]. Portanto, ao contrário do que se ouve falar e do que o ministro Lorenzoni e o MBL tanto defendem, o segredo do sucesso dos EUA está no seu protecionismo e não no intervencionismo. List, para produzir a sua obra, passou vários meses estudando a economia dos EUA, onde desenvolveu a teoria do desenvolvimento chamada de “proteção à indústria nascente” como forma de superar os limites e a dependência externa, nas palavras de Paulo Gala e André Roncaglia:
Antes de List ter escrito seu famoso tratado sobre o assunto, passou vários anos nos Estados Unidos estudando as práticas protecionistas americanas. O projeto dos Estados Unidos, especialmente dos estados do norte, se contrapunha frontalmente às recomendações do liberalismo inglês que, segundo alguns americanos, era produzido para exportação e não para consumo interno. Um dos exemplos do fervor protecionista americano no século XIX encontra-se na Guerra Civil. Além da questão da escravidão, o outro estopim do conflito foi o embate entre o protecionismo da União, que representava as indústrias do norte, e o liberalismo da Confederação, representando os interesses agrícolas do sul. Abraham Lincoln foi eleito a partir do voto decisivo dos estados protecionistas, especialmente New Jersey e Pensilvânia. A vitória dos estados do norte na Guerra Civil transformou os Estados Unidos em um dos mais assíduos praticantes da proteção à indústria infante até a Primeira Guerra Mundial.[xviii]
Alexander Hamilton[xix]
Friedrich List[xx]
Celso Furtado[xxi]
Analisar a história dos EUA é fundamental para compreendermos como as suas escolhas políticas iniciais foram fundamentais para o seu posterior desenvolvimento econômico. Porém, um evento aqui merece destaque: a grande Guerra Civil Americana, chamada também de “Guerra de Secessão” (1861-1865), quando os Estados do sul tentaram se separar da União, tendo como questão central e mais lembrada a da escravidão, mas que não foi a única. As diferenças econômicas entre norte e sul também foram fundamentais para a eclosão do conflito, já que o norte defendia, além da abolição da escravidão, o desenvolvimento industrial do país e o protecionismo econômico; enquanto o sul se pautava pela manutenção da escravatura, pelo predomínio do latifúndio, pela produção voltada para a exportação e, por fim, pela defesa do livre-mercado, demonstrando que as elites sulistas estavam em grande afinidade com o pensamento das elites da América ibérica. Além da participação cada vez maior da população negra, já que o conflito cada vez mais se tornou uma guerra contra a escravidão, o processo manufatureiro pelo qual o norte passava foi fundamental para a vitória da União, conforme podemos ler em História dos Estados Unidos:
A Revolução Industrial estava em andamento no Norte desde aproximadamente 1820, com as ferrovias, o barco a vapor e o telégrafo como bons exemplos da expansão econômica. A região conseguiu enriquecer ainda mais com a Guerra Civil, fortalecendo a indústria têxtil, de calçados e principalmente a bélica.[xxii]
Analisar a “Guerra de Secessão” é fundamental para compreendermos o projeto de nação empreendido pelos EUA. Além de ter sido o conflito mais letal de sua história, com mais de seiscentos mil mortos, representou um processo decisivo de ruptura com o passado colonial e rumo à consolidação de um projeto de modernização. “Após a independência de 1776, a nação estava incompleta e só foi decididamente formada com o fim da Guerra Civil”.[xxiii] A vitória do Norte fez com que a escravidão fosse abolida e sua política econômica, de proteção à indústria nascente, fosse adotada como Política de Estado. Daí para frente, os EUA foram o país que com mais vigor implantaram o protecionismo, sobretudo o tarifário, até o fim da Primeira Guerra Mundial. Podemos afirmar, portanto, que, assim como nos países que nasceram das antigas colônias ibéricas, as elites do sul também se beneficiavam da sociedade desenvolvida durante o período colonial e queriam a sua permanência. A vitória do norte foi, nesse sentido, fundamental, por ter procurado combater as estruturas coloniais que ainda persistiam e emular o processo de desenvolvimento europeu dentro de uma perspectiva industrial, de modo que os EUA muito provavelmente não seriam o que são hoje se o resultado do conflito tivesse sido favorável ao sul.
A Guerra de Secessão: conflito entre o Norte e o Sul dos EUA.[xxiv]
Como grandes exemplos desse protecionismo americano, podemos citar que “entre 1869 e 1898, estima-se que cerca de 13% da renda nacional foi aplicada na expansão da indústria”[xxv]. Em questão às medidas tarifárias aos manufaturados importados, antes da “Guerra de Secessão”, os EUA, desde 1820, já adotavam tarifas consideradas altas para o período, em torno de 35-45%. O interessante aqui é que o Reino Unido, nesse período em que desenvolvia a sua indústria, cobrava uma tarifa ainda maior, entre 45-55%. Somente quando eles tiveram suas indústrias plenamente desenvolvidas que eles zeraram as tarifas e passaram a defender o livre-mercado. Assim, em 1875, enquanto o Reino Unido praticava uma tarifa zerada, os EUA, nesse período do pós-guerra, começaram a cobrar entre 40-50%, sendo essas as maiores tarifas entre as nações estudadas nesse período. Os valores permaneceram bastante elevados até a entrada do século XX, quando foram reduzidos até 25%. Porém, com a crise de 1929, o Estado voltou a intervir com ainda maior presença, chegando a cobrar 48% em 1931. Os valores só caíram para patamares menores, de fato, após a Segunda Guerra Mundial, nos anos 50, quando os EUA saem entre os vitoriosos, despontando como a grande potência econômica do mundo ocidental. Somente nesse momento que acontece a grande virada, reduzindo drasticamente suas tarifas de importação para 14%. É interessante observar que, mesmo com essa grande redução, eles nunca chegaram a zerar as tarifas de fato, ou seja, ainda assim continuaram protegendo a sua indústria frente à concorrência estrangeira.[xxvi]
Além do investimento em indústria e da proteção tarifária, os EUA também fizeram grandes investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), com a criação de grandes centros de pesquisas agrícolas, que contribuíram para que além de potência industrial que se tornaram, também fossem uma grande potência agrícola (a maior do mundo até os dias atuais), com uma forte tradição em pesquisa para o aumento da produtividade. O Brasil, por exemplo, se gaba bastante de ser o “celeiro do mundo” e das suas grandes safras de soja, mas está atrás dos EUA, este, sim, o maior produtor de soja do mundo[xxvii]. Também fizeram grandes investimentos em instituições de educação, ao ponto de que, em 1900, 80% de todo o investimento em educação era público[xxviii]. Também é fundamental destacar todo o grande esforço em infraestrutura, já que desde o século XIX viram a necessidade de conectar o país através de ferrovias e sistemas de comunicação. Os gastos do governo com pesquisas militares no século XX também foram fundamentais para colocar esse país na vanguarda da tecnologia, como bem argumentou Ha-Joon Chang:
Indústrias como a de computadores, a aeroespacial e a de internet, nas quais os Estados Unidos ainda se mantêm na vanguarda internacional, a despeito do declínio de sua liderança tecnológica como um todo, nunca teriam sido possíveis sem a P&D militar financiada pelo governo federal.[xxix]
Para finalizarmos as comparações com o Brasil imperial e seu modelo econômico pós-independência, não podemos deixar de citar novamente Celso Furtado, que analisa as dificuldades das duas nações no início do século XIX. O autor destaca: a dificuldade que ambas encontraram para desenvolver suas indústrias devido à pressão inglesa, que utiliza de todos os meios ao seu alcance para impedir a exportação de máquinas; e que os EUA se beneficiaram, durante a colonização, de operários que emigraram para as colônias[xxx]. Porém, o próprio autor também adverte que “uma política inteligente de industrialização seria impraticável num país dirigido por uma classe de grandes senhores agrícolas escravistas”[xxxi], mesmo observando a importância das exportações para o crescimento da renda, o que não aconteceu, fazendo com o que o Brasil passasse por um período de estagnação econômica até o desenvolvimento da economia cafeeira, que se tornará hegemônica a partir da segunda metade do século XIX até a primeira metade do século XX.
A conclusão que fica após essa breve análise dos EUA é a de que eles nunca foram o paraíso liberal que tanto propagandeiam, muito pelo contrário. Após a independência, vimos o conflito entre dois grandes projetos de país, o do Norte, que buscava emular as instituições industriais europeias, e o do Sul, da manutenção das estruturas coloniais, muito próximo do que as demais nações da América fizeram. A vitória do norte foi fundamental para que o projeto de país do norte fosse vitorioso, com a política de “Proteção à indústria nascente” como defenderam Alexander Hamilton e Fridrich List, além do massivo investimento público em educação e P&D. O que temos nos EUA, portanto, não é um “milagre liberal”, mas uma presença planejada do Estado, atuando como promotor do desenvolvimento, sendo por isso considerada “a pátria-mãe e o baluarte do protecionismo moderno”[xxxii].
4. O problema brasileiro: um passado liberal ou intervencionista?
Até aqui vimos que o problema do subdesenvolvimento não é culpa exclusiva do passado colonial e do país colonizador, apesar de, como já observamos anteriormente, nada justificar a violência de uma colonização. Porém, a persistência dos problemas estruturais do nosso país é muito mais decorrente de escolhas políticas e da falta de projeto das elites pós-independência. Hoje, o debate, sobretudo em redes sociais, é quase unânime em afirmar que a solução para o Brasil estaria na iniciativa privada, no Estado Mínimo e na saída liberal. O grande modelo para os que defendem tal perspectiva seria o dos EUA, que, graças ao liberalismo, tornaram-se a grande potência mundial.
No último capítulo analisamos como essa perspectiva é equivocada e que, se tivermos de atribuir um adjetivo aos EUA, seria o de que eles são, de fato, os grandes intervencionistas do mundo (pelo menos até a ascensão da China). Porém, quando comparamos com o Brasil, fica dúvida: se é dessa forma, por que o Brasil, cuja visão comum é a de que sempre teve um Estado muito presente e intervencionista, não se desenvolveu?
O Estado brasileiro, ao contrário do que muito se ouve por aí, nunca foi um Estado muito planejador e presente na economia. Após a nossa independência, passamos para um modelo bastante liberal, em que continuamos produzindo matérias-primas para o mercado externo e importando industrializados. As raras tentativas de industrialização, vide o grande esforço do Visconde de Mauá, não foram incentivadas e, até mesmo, chegaram a ser desestimuladas, pois atentavam contra a nossa “vocação natural” – ideia até hoje bastante difundida, como podemos ver na recente fala do presidente do Ipea, Carlos von Doellinger, que assim como Adam Smith escreveu lá no século XVIII em relação aos EUA recém independente, diz que deveríamos focar em nossas vantagens comparativas, como a agricultura e a mineração[xxxiii]. Após a República, pouca coisa mudou, conforme podemos visualizar nesse importante gráfico do IBGE sobre a participação do setor privado e do Estado no investimento econômico entre 1908 e 2000.
Referência: IBGE. Estatísticas do século XX. Rio de Janeiro, 2006, p. 518.
Conforme observamos no gráfico acima, desde 1908, a participação do setor público nos investimentos sempre foi mínima, ampliando apenas a partir dos anos 30 (Era Vargas), com destaque para o ano de 1946, com a criação das primeiras estatais. Tal ciclo tem o seu auge no meio dos anos 70 para entrar em declínio na década seguinte, chegando aos baixos patamares dos anos 2000. Se o que os liberais brasileiros tanto defendem está correto, era para termos virado uma potência durante o Império e a Primeira República, mas não foi o que aconteceu. Entramos no século XX com uma escravidão recém abolida, mas sem nenhum tipo de preocupação com inclusão dos libertos, como um país desigual, com altas taxas de analfabetismo e altamente desindustrializado. Como bem observaram Schwarcz e Starling, no Brasil republicano, “o desfile de continuidades era maior que o de rupturas. Sobretudo nas áreas rurais, os libertos misturaram-se à população pobre; situação, aliás, que nada trazia de novidade”[xxxiv]. Mudamos mais uma vez para continuarmos os mesmos. É importante destacar, porém, os impactos da Primeira Guerra, que levaram a uma política de substituição gradual das importações, contribuindo para o início da industrialização em São Paulo, que só terá força mesmo a partir dos anos 30. Sobre isso, considero oportuno destacar a importante reflexão de Jessé Souza, que faz um excelente resumo da situação política, social e econômica do período:
Depois do lento processo de modernização de fora para dentro que o Brasil sofre a partir de 1808 – seguido da libertação formal dos escravos e da entrada de milhões de imigrantes no início do século XX, formando uma classe trabalhadora rural e urbana de tipo novo –, os fatos mais importantes para nossa narrativa acontecem nos anos 1930. O grande divisor de águas é a entrada do Estado como variável nova do desenvolvimento brasileiro. É óbvio que o Estado existia antes. Mas nunca havíamos tido um Estado interventor e reformador. É isso que o Estado Novo e a figura de Getúlio Vargas significam.[xxxv]
O que isso significa? Primeiro e mais importante: nós só fomos ter um Estado planejador e intervencionista, como os EUA, em 1930. O que isso implicou na prática para o subdesenvolvimento do nosso país? Para essa análise iremos utilizar o importante estudo de Tombolo e Sampaio, O PIB brasileiro nos séculos XIX e XX: duzentos anos de flutuações econômicas[xxxvi]. Na tabela 10[xxxvii] desse estudo, onde os autores analisam as diferentes rendas per capitas de diferentes países, vemos que em 1820 os EUA tinham uma renda de 1.894, enquanto o Brasil, de 908. Em 1880, já pós Guerra de Secessão, a renda americana passa para 4.797, enquanto a brasileira subiu muito pouco, estando em 1.128. Em 1950, a renda americana já era de 14.406, enquanto a brasileira ainda estava em 2.592. É interessante observar que a renda brasileira estava em torno de 50% da renda americana, e conforme o desenvolvimento do primeiro e o atraso do segundo se acentuavam, a distância foi ficando cada vez maior. Em 1950, por exemplo, a renda americana já estava em 14.406, enquanto a brasileira ainda estava em 2.592, ou seja, 18% da primeira.
A análise do crescimento do PIB per capita brasileiro e a importância da atuação do Estado sobre a economia para o desenvolvimento do Brasil ficam ainda mais evidentes, conforme podemos visualizar no gráfico abaixo:
Referência: TOMBOLO, Guilherme; SAMPAIO, Armando Vaz. O PIB brasileiro nos séculos XIX e XX, p. 207.
Nesse gráfico, que analisa fases de crescimento do PIB per capita brasileiro entre 1810 e 2010, percebemos uma grande fase de crescimento contínuo, em meados dos anos 1930 até os anos 1980, período que coincide, no gráfico do IBGE, com o crescimento do investimento do Estado na economia brasileira, até uma fase final de retorno ao baixo crescimento, que coincide com a adoção do modelo neoliberal a partir dos anos 1980 e 1990. Os autores, por fim, analisam o Produto Real Agregado e o PIB per capita nas diferentes fases de crescimento identificadas no estudo da economia brasileira nos últimos duzentos anos, e a conclusão é a seguinte:
Identificamos sete fases no crescimento do produto real agregado brasileiro: 1820-1875 (56 anos), com crescimento médio de 2,70% a.a.; 1876-1905 (30 anos), com 2,29% a.a.; 1906-1945 (40 anos), com 4,34% a.a.; 1946-1957 (12 anos), com 6,33% a.a.; 1958-1978 (21 anos), com 7,39% a.a.; 1979-2003 (25 anos), com 2,26% a.a.; e 2004-2012 (9 anos), com crescimento médio de 3,80% a.a. A taxa média do período como um todo (1820-2012, 193 anos) foi de 3,71% a.a. (média ponderada pela duração dos períodos). Na análise do PIB per capita, identificamos seis fases de crescimento, a saber: 1820-1875 (56 anos), com taxa média de crescimento de 1,21% a.a.; 1876-1919 (44 anos), com 0,36% a.a.; 1920-1957 (38 anos), com 3,02% a.a.; 1958-1978 (21 anos), com 4,64% a.a.; 1979-2003 (25 anos), com 0,48% a.a.; e 2004-2012 (9 anos), com taxa média de crescimento de 2,93% a.a.[xxxviii]
De acordo com Tombolo e Sampaio, as fases de maior crescimento do Produto Real Agregado foi de 1946 a 1957, com crescimento de 6,33% ao ano, e a fase seguinte, de 1958-1978, com crescimento de 7,39% a.a. Em relação ao PIB per capita, os períodos quase coincidem com a primeira fase de grande crescimento identificada de 1920 a 1957, com crescimento de 3,02% ao ano, e de 1958 a 1978, com crescimento de 4,64% ao ano. Colocando esses dados em confronto com o IBGE e com o que analisamos até agora, percebemos a grande relação entre um Estado promotor e estimulador do crescimento e a economia liberal, que foi, e reforçamos ainda mais, a norma econômica presente em quase toda a história brasileira. O nosso erro maior foi o de não ter rompido definitivamente com as estruturas conservadoras ainda presentes em nossa sociedade brasileira e que impedem até hoje o nosso desenvolvimento pleno através de um projeto de nação e não apenas de manutenção da ordem social e dos privilégios vigentes. Como bem observou Ciro Gomes, “O país que mais cresceu entre 1930 e 1980 ignorou a ignorância. Nada é mais eficaz em manter as estruturas sociais”.[xxxix]
4.1 O problema brasileiro: breve análise sobre a agenda do PT.
Em poucas palavras, o PT tentou governar sem romper com as antigas estruturas existentes na sociedade brasileira, mesmo que a questão industrial sempre estivesse presente na pauta desse partido. Durante o ciclo de crescimento que envolve os governos petistas, onde o crescimento do Produto Real Agregado entre 2004 e 2012 foi de 3,80% ao ano, e o crescimento do PIB per capita foi de 2,93% ao ano em média, ainda temos valores bastante superiores ao do governo anterior, já que o mesmo PIB per capita tinha média de crescimento de apenas 0,48% ao ano entre 1979 e 2003. Onde estava o erro então?
Presidente Dilma Rousseff quando o pedido de impeachment foi aprovado pelo Senado[xl]
O governo Lula tentou o crescimento pelo estímulo ao mercado interno por políticas pautadas pela transferência de renda, aumento do salário-mínimo e pelo estímulo à entrada de investimentos estrangeiros através de altos juros. O governo Dilma, por outro lado, seguiu por outro caminho, privilegiando a redução dos impostos e a menor participação do Estado, adotando um viés claramente mais próximo do liberalismo do que do desenvolvimentismo, como bem observou Laura Carvalho: “dificilmente se atribui a alcunha de desenvolvimentista a um modelo em que os investimentos públicos em infraestrutura não são protagonistas”[xli]. Como é sabido, tal estratégia não deu os resultados esperados. A presidente procurou atender a agenda do empresariado local, representado pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e estes se aproveitaram dos lucros obtidos pela exoneração fiscal para investirem no rentismo de lucro imediato e não num projeto de desenvolvimento via modernização e industrialização. Quando a presidente tentou cobrar uma contrapartida, pela baixa arrecadação e a baixa empregabilidade resultantes de sua política mais liberal, eles simplesmente saíram para as ruas com o slogan: “não vou pagar o pato”. Sobre isso, observou Laura Carvalho:
Em meio à forte incerteza sobre a rentabilidade futura dos investimentos em capital produtivo, quem ainda tem dinheiro em caixa prefere investir em títulos públicos e aproveitar, já no curto prazo, o alto rendimento com juros proporcionados por ativos de baixo risco.
Após o impeachment, a ex-presidente Dilma Rousseff classificou a política de desonerações como um dos seus principais erros. Na autocrítica, feita em diversas entrevistas a veículos estrangeiros no ano de 2017, Dilma disse que esperava que as renúncias fiscais estimulassem as empresas a realizar investimentos a gerar empregos, mas que os empresários acabaram utilizando a política para aumentar suas margens de lucro.[xlii]
Dessa forma, podemos concluir que o que temos, de fato, no Brasil, é uma narrativa da história liberal-conservadora, como bem observou Jessé Souza. Essa narrativa desenvolveu um discurso que coloca as mazelas da nossa sociedade no Estado, herdado pela colonização de Portugal, e que permanece grande e corrupto. Ignorando completamente as perspectivas econômicas históricas, buscam uma saída sempre mais liberal possível, o que representa cada vez mais a apropriação da renda por uma parcela cada vez menor da sociedade, que monopoliza para si os bens econômicos, políticos e culturais. Essa narrativa, estudada neste texto a partir das principais respostas comuns dadas ao problema do subdesenvolvimento do Brasil, escondem o mais importante: que a culpa do nosso atraso está, sobretudo, numa longa permanência das estruturas conservadoras da nossa sociedade, toda orientada para o serviço e bem estar de uma elite que, em termos gerais, representa menos de 1% da nossa população, mas que concentra quase 30% de toda a renda gerada, em que 1% dos donos de terras concentram mais de 50% das terras cultiváveis, e que o 1% mais rico possui mais reservas financeiras do que os 90% mais pobres.[xliii]
5. Conclusão: O Brasil que temos, o Brasil que queremos e um presidente no meio.
Para concluir, depois deste texto, que se excedeu mais do que deveria, não podemos deixar de refletir, mesmo que rapidamente, esses três pontos: o Brasil que temos, o Brasil que queremos e um presidente sem projeto entre um e outro.
O Brasil que temos: atualmente, vivemos num país extremamente desigual e que passa por um acelerado processo de empobrecimento, desindustrialização e perda da capacidade de investimento do Estado, sobretudo após a famosa PEC 55, apelidada pelos seus críticos de “PEC do fim do mundo”, que limita a capacidade de investimento do Estado por vinte anos ao colocar um limite, isto é, um teto de gastos públicos.
O Brasil que queremos: para compreendermos o Brasil que queremos, temos que nos voltar para a nossa diretriz, os nossos princípios: a Constituição de 1988, apelidada de “Constituição cidadã”. A nossa Carta Magna, escrita logo após os vinte anos de uma ditadura civil-militar, veio comprometida com os direitos dos cidadãos, com a criação de instituições democráticas e, principalmente, com o desenvolvimento de um “Estado de Bem Estar Social”, mas que nunca foi implementada de fato por esbarrar nos privilégios da nossa “elite do atraso”.
Temos também um presidente no meio, um político que fez carreira no “baixo clero do congresso”, que sempre legislou em causa própria, com uma mentalidade conservadora, e que, para ter o apoio do mercado e das elites, se comprometeu com o aprofundamento das reformas liberais, com a manutenção da PEC do teto dos gastos e, até o próximo ano, em fazer duas grandes reformas dentro dessa perspectiva, enxugando ainda mais a capacidade de investimento e atuação do Estado.
Porém, o que vimos depois foi a barganha política, onde um grupo, representante dos que sempre estiveram no poder, luta e faz de tudo para não atender em plenitude os ideais da nossa constituição e é isso o que o nosso governo atual representa. Bolsonaro está no meio entre o que somos e o que queremos, mas para impedir de avançarmos rumo ao projeto constituinte. Atua como uma âncora do atraso, mantendo o nosso país no arcaísmo estrutural e comprometido com a perpetuação das estruturas injustas da nossa sociedade.
Essa breve reflexão tem esse propósito: demonstrar, racionalmente, o quanto o projeto que está disputando o poder no Brasil, representado pelas direitas e pelo “centrão” não é um projeto de modernização, mas de atraso. É fundamental levarmos toda a sociedade a refletir sobre a importância de nos mantermos fiéis aos princípios que nortearam a nossa constituição, fazermos as verdadeiras reformas estruturais para rompermos os resquícios do que nos mantém no atraso econômico e tecnológico e, assim, podermos finalmente vislumbrar alguma possibilidade de futuro.
Charge – A desigualdade social no país começa na educação[xliv]
NOTAS
[i] Acesso disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2020/05/22/ouca-e-leia-na-integra-a-reuniao-ministerial-de-bolsonaro-liberada-pelo-stf [ii] KARNAL, Leandro (et al). História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. 3ª ed. São Paulo: Contexto, 2011, posição 485 (versão Kindle). [iii] Acesso disponível em:https://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/setembro2002/unihoje_ju191pag7a.html#:~:text=Jornal%20da%20Unicamp&text=As%20primeiras%20universidades%20fora%20da,)%20e%20Santiago%20(1738). [iv] Acesso disponível em: https://www.foregon.com/blog/quais-sao-os-25-paises-mais-ricos-do-mundo-em-2020/ [v] KARNAL, Leandro (et al). História dos Estados Unidos, posição 485/487 (versão Kindle). [vi] Referência da imagem: https://guia.melhoresdestinos.com.br/casa-da-opera-teatro-municipal-206-5831-l.html [vii] Referência da imagem: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Jacques_Dessalines [viii] SCHWARCZ; Lília M; STARLING, Heloísa M. Brasil: uma biografia. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, posição 5460 (versão Kindle). [ix] Acesso disponível em: http://www.palmares.gov.br/?p=25817#:~:text=De%20acordo%20com%20o%20levantamento,4%25%20do%20total%20dos%20habitantes. [x] SCHWARCZ; Lília M; STARLING, Heloísa M. Brasil: uma biografia, posição 5538/5544 (versão Kindle). [xi] Referência da imagem: https://www.todamateria.com.br/jean-baptiste-debret/ [xii] KARNAL, Leandro (et al). História dos Estados Unidos, posição 476 (versão Kindle). [xiii] SOUZA, Jessé. A Elite do Atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017, p. 102. [xiv] PARKER, Trey; STONE, Matt. South Park: "I'm a Little Bit Country", S7, E5. Disponível em https://www.southparkstudios.com.br/episodios/zyprl7/south-park-sou-um-pouco-country-temporada-7-ep-4. [xv] NOVAIS, Fernando A. O Brasil nos quadros do antigo sistema colonial. In: MOTA, Carlos Guilherme (org). Brasil em Perspectiva. 15ª ed. São Paulo: Difel, 1985, p. 51. [xvi] FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 34ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 153. [xvii] GALA, Paulo; RONCAGLIA, André. Brasil, uma economia que não aprende: novas perspectivas para entender o nosso fracasso. São Paulo: Edição do autor, 2020, posição 734 (versão Kindle). [xviii] GALA, Paulo; RONCAGLIA, André. Brasil, uma economia que não aprende, posição 751/745 (versão Kindle). [xix] Referência da imagem: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexander_Hamilton [xx] Referência da Imagem: https://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_List [xxi] Referência da imagem: http://www.abc.org.br/2020/07/25/homenagem-da-abc-ao-centenario-de-celso-furtado/ [xxii] KARNAL, Leandro (et al). História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. 3ª ed. São Paulo: Contexto, 2011, posição 2184 (versão Kindle). [xxiii] KARNAL, Leandro (et al). História dos Estados Unidos, posição 2200 (versão Kindle). [xxiv] Referência da imagem: http://historiainte.blogspot.com/2014/06/a-guerra-de-secessao.html [xxv] KARNAL, Leandro (et al). História dos Estados Unidos, posição 2534 (versão Kindle). [xxvi] Todos os dados do parágrafo estão disponíveis em: CHANG, Ha-Joon. Chutando a escada: A estratégia do desenvolvimento em perspectiva histórica. Tradução de Luiz Antônio Oliveira de Araújo. São Paulo: UNESP, 2004, p. 36, conforme tabela 2.1. [xxvii] Acesso disponível em: https://www.yarabrasil.com.br/nutricao-de-plantas-ccl/soja/influenciando-a-qualidade-da-soja/producao-mundial-de-soja/ [xxviii] CHANG, Ha-Joon. Chutando a escada: A estratégia do desenvolvimento em perspectiva história. Tradução de Luiz Antônio Oliveira de Araújo. São Paulo: UNESP, 2004, p. 60. [xxix] Ibid., p. 61. [xxx] FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil, p. 160. [xxxi] Ibid., p. 160. [xxxii] BAIROCH, Paul, apud, CHANG, Ha-Joon. Chutando a escada, p. 48. [xxxiii] Acesso disponível em: https://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2021/01/21/egresso-da-fgv-rj-presidente-do-ipea-em-defesa-da-vocacao-agraria-a-eugenio-gudin-1886-1986/ [xxxiv] SCHWARCZ; Lília M; STARLING, Heloísa M. Brasil: uma biografia. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, posição 8209 (versão Kindle). [xxxv] SOUZA, Jessé. A Elite do Atraso, p. 110. [xxxvi] TOMBOLO, Guilherme; SAMPAIO, Armando Vaz. O PIB brasileiro nos séculos XIX e XX: duzentos anos de flutuações econômicas, Revista de Economia da UFPR, v. 39, n. 3 (ano 37), p. 181-216, set./dez. 2013. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/economia/article/view/31283/22683. [xxxvii] Ibid., p. 203. [xxxviii] TOMBOLO, Guilherme; SAMPAIO, Armando Vaz. O PIB brasileiro nos séculos XIX e XX, p. 212. [xxxix] GOMES, Ciro. Projeto Nacional: o dever da esperança, São Paulo: Leya, 2020, posição 513 (versão Kindle). [xl] Referência da imagem: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2016/08/31/senado-aprova-impeachment-e-dilma-deixa-presidencia-em-definitivo.htm [xli] CARVALHO, Laura. Valsa brasileira: do boom ao caos econômico. 9ª reimpressão. São Paulo: Todavia, 2020, p. 85. [xlii] Ibid., p. 74. [xliii] MOREIRA, Eduardo. Desigualdade & caminhos para uma sociedade mais justa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2019, posição 240 (versão Kindle). [xliv] Referência da imagem: http://www.ovetor.com.br/portal/brasilianas-desigualdade-social-no-pais-comeca-na-educacao-diz-professor/
***Referência da imagem de capa: https://www.todamateria.com.br/brasil-colonia/
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SOBRE O AUTOR
Frederico Moreira Guimarães é licenciado em História e Filosofia, e mestre em Filosofia pela PUC-SP.
Atua como professor da rede pública estadual e municipal de ensino. Atualmente, dedica-se ao estudo das relações entre sociedade, economia, cultura e pós-modernidade no pensamento ocidental.
Contato: fredericoguimaraes83@gmail.com
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