Conhecendo a obra - Os Mundos Cruzados da Religião, do Capital e do Trabalho de Lyndon de Araújo Santos

O livro Os Mundos Cruzados da Religião, do Trabalho e do Capital: Cem anos da Fábrica de Chapéus Mangueira é o resultado de pesquisas históricas feitas nas últimas décadas pelo autor. A partir do contato impactante com uma certidão de óbito de uma chapeleira, Ruphina Matos (1867-1945), o autor percorreu os caminhos da investigação puxando os fios das memórias e dos mundos que se cruzaram em sua trajetória de vida. Outros personagens/sujeitos entraram na narrativa, também com os seus universos, os quais perfizeram experiências de vidas circunscritas aos espaços relacionados e interseccionados da religião, do trabalho e do capital.

Este foi, por exemplo e, principalmente, José Luiz Fernandes Braga (1842-1920), imigrante português que se tornou proprietário de uma fábrica de Chapéus no Rio de Janeiro, que viria a ser uma referência na história da cidade do Rio de Janeiro. Ruphina e José Luiz fizeram parte de espaços relacionados desde a igreja evangélica onde eram membros e na fábrica, em condições distintas como patrão e operária.

Percorrendo vasta documentação da fábrica juntamente com jornais, fotografias, imagens e depoimentos orais, um conjunto fragmentado da memória em torno da fábrica centenária foi sendo recuperado e transformado em história. Ou, em uma narrativa histórica. O desafio foi o de descrever esse universo fabril aproximando-se das suas infinitas experiências, como se fosse possível dar conta delas, e das possibilidades de compreensão de um vivido humano condicionado por tantas forças, valores e interesses. Para isso, os sujeitos desse universo, operárias e operários, foram trazidos para a narrativa como protagonistas de suas próprias trajetórias de vida, na condição da classe trabalhadora, tal como o capitalismo a configurou no Brasil republicano.

Afinal, como uma ética religiosa protestante num país católico e capitalista, interferiu, interagiu, conflitou e condicionou essa experiência fabril complexa durante quase um século? Essa pergunta norteou a pesquisa sobre a Fábrica de Chapéus Mangueira, que esteve localizada entre a linha férrea e o morro da Mangueira, demarcada pela estação de trem, a Estação Primeira da Mangueira, onde se desenvolveu um intenso fluxo populacional com suas culturas e contradições. Enclave por onde perpassam os mundos do sagrado e do trabalho, da cultura e do capital.

O livro se tornou, portanto, uma narrativa histórica inacabada, assim como um acervo de fontes a serem ainda exploradas e ressignificadas pelas próprias leitoras e pelos próprios leitores.

INFORMAÇÕES SOBRE O AUTOR

Prof. Dr. Lyndon de Araújo Santos é Professor Titular do Depto. de História da UFMA/ UFRRJ, Programa de Pós-Graduação em História da UFMA e Editor Geral da RBHR - Revista Brasileira de História das Religiões. Docente da Universidade Federal do Maranhão e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - Instituto Multidisciplinar, Nova Iguaçu. Atua nas áreas de História do Brasil; História do Protestantismo, História das Religiões, Teoria da História.

Confira o Livro